PRESUMI o engano de amanhã, é o que tenho de certo hoje.
E vi louvarem a boca e os lábios do estranho, mas estrangeira, minha língua, esteve muda.
E arremessei a pedra na cabeça do insensato e soterrei sua ira com o peso da areia.
Mas meu amor aberto encobre toda repreensão.
E meu beijo de amor fiel é um engano e abre feridas de aborrecimento.
Minha alma faminta acha o mel amargo, já à farta até o favo é um doce.
Sou ave que vagueia longe, pois já não sei o meu lugar.
Trouxe óleo e perfume para meu amigo doente, pois meu coração cordial não conhece conselhos.
Abandonei meu pai e meu irmão e, amigavelmente, entrei na casa de meu adversário, pois ele está sempre mais perto que meu irmão.
Pai, perdoe-me a falta de sabedoria e alegre teu coração com o silêncio ante o desprezo.
Sussurrei calúnias ao meu amigo, mas o maldito dormia no frescor da tarde.
Banhei-me na ladainha da mulher rixosa tal como se me afogasse no dilúvio
Contive o óleo, enquanto o vento acometia minha destra.
Agucei o rosto de meu inimigo com o ferro afiado.
Comi o fruto da figueira, enquanto o guarda velava a honra de seu senhor.
Deitei minha sombra na secura da areia, pois meu coração é tão tosco quanto eu mesmo sou.
Meus olhos não se satisfazem com a perdição, da qual no inferno há fartura.
Fui provado no crisol e no forno e dei prata e ouro em louvores.
Pisei a mão do tolo como a um gral de grãos de cevada pilados e tomei para mim a sua estultícia.
Saciei a fome de minhas ovelhas com o fruto de meu coração.
Nunca tive riqueza por saber que minha coroa é de outra geração.
Ajuntei as ervas dos montes, mas perdi os renovos pelo caminho.
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